Breve histórico sobre o povo Pataxó
Pataxó era um povo livre, vivia da caça, pesca e da coleta de frutos, assim como outros povos que aqui moravam antes da chegada dos colonizadores. Diferentes dos povos Tupis, que os portugueses encontraram na costa litorânea, povo sedentário, os Pataxó eram nômades e transitavam fazendo moradas por diversas regiões, que hoje são os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia dividindo esse território com outros povos. As invasões de fazendeiros, criadores de gado e produtores agrícolas aos territórios tradicionais dos povos que aqui habitavam geraram diversos conflitos e massacres exterminado e dizimando muitas etnias. Muitos grupos que viviam há muito tempo no litoral se afastaram, enquanto os Pataxó fixaram em diversas regiões no litoral da Bahia, região por onde transitavam. Em 1861, por decisão do governador da província, Antônio da Costa Pinto, os Pataxó foram aldeados em um único local, próximo ao rio Corumbau para serem catequizados por padres capuchinhos.
A igreja ficou com o papel de reprimir as nossas manifestações culturais, catequizava enquanto proibia os rituais, a língua, a nossa organização social e religiosa, além de nos preparar para servir de mão-de-obra escrava, ou pagar por baixo o serviço dos nossos trabalhos. Enquanto isso dava título de posse de nossas terras aos invasores e assassinos de etnias indígenas.
Foi assim que tivemos que aprender a viver dessa maneira, sem poder falar nossa língua, fazendo plantações, morando em casas fixas, feitas de palha ou barro. Até a preparação da nossa alimentação sofreu modificações, apesar de continuarmos a nos alimentar à base da caça, pesca mariscos, farinha de puba e beiju.
Professores Pataxó do extremo Sul da Bahia, 2007.
O aldeamento ficou conhecido como Barra Velha, devido a uma antiga barra que passava pela aldeia, que depois se deslocou para outro lugar onde hoje é Corumbau. A aldeia fica localizada entre os rios Caraíva e Corumbau, dentro do território do Monte Pascoal[1] é conhecida pelo povo Pataxó como aldeia mãe por ser a mais antiga das aldeias.
O povo pataxó viveu muito tempo ali, esquecido pelas autoridades, e para o povo brasileiro nem existiam. Até as décadas de quarenta, os mais velhos contam que viveram o tempo da fartura, algumas famílias moravam no centro da aldeia, outras entorno do Monte Pascoal.
Em 1943 um grupo de engenheiro liderado por Dr. Barros chegou na aldeia dizendo ter vindo para fazer a demarcação do território indígena e precisava da colaboração dos Pataxó. Só depois do serviço pronto é que a comunidade ficou sabendo que seria criado um parque Florestal que dali em diante não poderiam mais fazer roças somente nas capoeiras e que seriam removidos daquele território.
"Em 19 de Abril de 1946 foi criado o Parque Nacional de Monte Pascoal pelo decreto 12.729. Daí em diante a nossa vida começou a ficar mais difícil, pois não podíamos usufruir desse espaço de terra onde sempre vivemos. Quem vivia entorno do Monte Pascoal não tinha direito de caçar, pescar, colocar roças. A vida ficou muito difícil porque aquela terra era nosso único meio de sobrevivência. Assim houve muitos conflitos entre os nossos parentes e os guardas que viviam na área do Monte Pascoal".
Professores Pataxó do extremo sul da Bahia, 2007.
Cansados de tanto sofrimento, e sabendo que tinham direitos a esse território as lideranças Pataxó fizeram várias viagens ao Rio de Janeiro procurando apoio do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) entre os anos 1949 a 1951. Em uma dessas viagens ao SPI conheceram dois homens que prometeram fazer a demarcação do território Pataxó. Uma semana depois da chegada das lideranças a aldeia, chegaram dois homens um dizia ser tenente, o outro engenheiro. Reuniram a comunidade falaram que fariam a demarcação, precisaria da ajuda dos homens e perguntou onde ficava o comércio mais próximo, a comunidade respondeu que ficava em Corumbau. Então os dois homens afirmaram que começariam os trabalhos pelo Corumbau e precisaria da ajuda do comerciante. No dia seguinte quando aproximaram do comercio do Teodomiro, os dois homens armados amarraram o comerciante e obrigaram os Pataxó a levarem tudo que tinha na venda para a aldeia inclusive o comerciante que foi solto por um jovem no caminho. A mercadoria foi colocada na igreja, mas a comunidade a rejeitou, pois já haviam percebidos que aqueles homens eram bandidos, era tarde demais.
"Na madrugada do terceiro dia chegaram os policiais da cidade de Porto Seguro atirando contra as casas. Logo depois ouviram tiros do outro lado, era a polícia de Prado que chegava atrasada, pelo outro lado, já atirando contra a polícia de Porto Seguro, pensando tratar-se dos índios, achando que eles estavam bem armados. Enquanto trocavam tiros entre si, alguns índios começaram a fugir, se embrenhando nas matas. Quando eles se deram conta que não eram os índios que atiravam, se juntaram, entraram na aldeia, incendiando as casas, prendendo e espancando os índios que iam encontrando, queimando suas roças e passaram a perseguir os índios que haviam fugido. Essa perseguição só acabou semanas depois que os dois ladrões foram mortos".
Professore Pataxó do extremo Sul da Bahia, 2007.
Os parentes que foram presos, só foram soltos quando veio uma ordem de Salvador para soltá-los, pois os policiais já haviam matado os dois culpados. Depois desse episódio a comunidade se dispersou, muitos foram obrigados a começar a vida trabalhando em fazendas da região e a aldeia ficou deserta.
Depois de alguns anos muitas famílias voltaram para seu território, mas foram novamente obrigados a saírem de suas terras pela implantação do Parque Nacional de Monte Pascoal, em 1961. A aldeia ficou novamente deserta.
Os Pataxó ficaram espalhados por diversas cidades da região e em outros estados como Espírito Santo e Minas Gerais. Aos poucos as famílias foram retornando novamente a aldeia, como não podiam fazer roças viviam da coleta de mangaba, coquinho, caju, da pesca e do mangue. Mais uma vez as lideranças resolveram pedir ajudar ao SPI, que demarcou na época uma pequena área com apenas quinhentos metros de terra que dava para a agricultura.
Em 1967 foi criada a FUNAI, que juntamente com o governo da Bahia teve uma tentativa de deslocar os Pataxó para uma outra área do outro lado do rio Caraíva, mas os Pataxó resistiram e não saíram.
Depois de muita luta em 1984 os Pataxó conseguiram a demarcação de 8.627 hectares de terras, homologada em 1996 pelo decreto nº 1.396. Em 1999, o Monte Pascoal foi reconquistado.
Devido às inúmeras dispersões e a volta de muitos dos parentes dispersos, outras aldeias foram formadas no entorno do Monte Pascoal, totalizando hoje dezoito aldeias, fora as famílias que vivem isoladas.
Essas inúmeras dispersões resultaram em casamentos de Pataxó com outras pessoas negras e brancas, na formação de diversas aldeias com modos de vidas diferentes. Hoje a maioria das comunidades Pataxó vive à base da agricultura e da venda do artesanato.
Pataxó era um povo livre, vivia da caça, pesca e da coleta de frutos, assim como outros povos que aqui moravam antes da chegada dos colonizadores. Diferentes dos povos Tupis, que os portugueses encontraram na costa litorânea, povo sedentário, os Pataxó eram nômades e transitavam fazendo moradas por diversas regiões, que hoje são os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia dividindo esse território com outros povos. As invasões de fazendeiros, criadores de gado e produtores agrícolas aos territórios tradicionais dos povos que aqui habitavam geraram diversos conflitos e massacres exterminado e dizimando muitas etnias. Muitos grupos que viviam há muito tempo no litoral se afastaram, enquanto os Pataxó fixaram em diversas regiões no litoral da Bahia, região por onde transitavam. Em 1861, por decisão do governador da província, Antônio da Costa Pinto, os Pataxó foram aldeados em um único local, próximo ao rio Corumbau para serem catequizados por padres capuchinhos.
A igreja ficou com o papel de reprimir as nossas manifestações culturais, catequizava enquanto proibia os rituais, a língua, a nossa organização social e religiosa, além de nos preparar para servir de mão-de-obra escrava, ou pagar por baixo o serviço dos nossos trabalhos. Enquanto isso dava título de posse de nossas terras aos invasores e assassinos de etnias indígenas.
Foi assim que tivemos que aprender a viver dessa maneira, sem poder falar nossa língua, fazendo plantações, morando em casas fixas, feitas de palha ou barro. Até a preparação da nossa alimentação sofreu modificações, apesar de continuarmos a nos alimentar à base da caça, pesca mariscos, farinha de puba e beiju.
Professores Pataxó do extremo Sul da Bahia, 2007.
O aldeamento ficou conhecido como Barra Velha, devido a uma antiga barra que passava pela aldeia, que depois se deslocou para outro lugar onde hoje é Corumbau. A aldeia fica localizada entre os rios Caraíva e Corumbau, dentro do território do Monte Pascoal[1] é conhecida pelo povo Pataxó como aldeia mãe por ser a mais antiga das aldeias.
O povo pataxó viveu muito tempo ali, esquecido pelas autoridades, e para o povo brasileiro nem existiam. Até as décadas de quarenta, os mais velhos contam que viveram o tempo da fartura, algumas famílias moravam no centro da aldeia, outras entorno do Monte Pascoal.
Em 1943 um grupo de engenheiro liderado por Dr. Barros chegou na aldeia dizendo ter vindo para fazer a demarcação do território indígena e precisava da colaboração dos Pataxó. Só depois do serviço pronto é que a comunidade ficou sabendo que seria criado um parque Florestal que dali em diante não poderiam mais fazer roças somente nas capoeiras e que seriam removidos daquele território.
"Em 19 de Abril de 1946 foi criado o Parque Nacional de Monte Pascoal pelo decreto 12.729. Daí em diante a nossa vida começou a ficar mais difícil, pois não podíamos usufruir desse espaço de terra onde sempre vivemos. Quem vivia entorno do Monte Pascoal não tinha direito de caçar, pescar, colocar roças. A vida ficou muito difícil porque aquela terra era nosso único meio de sobrevivência. Assim houve muitos conflitos entre os nossos parentes e os guardas que viviam na área do Monte Pascoal".
Professores Pataxó do extremo sul da Bahia, 2007.
Cansados de tanto sofrimento, e sabendo que tinham direitos a esse território as lideranças Pataxó fizeram várias viagens ao Rio de Janeiro procurando apoio do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) entre os anos 1949 a 1951. Em uma dessas viagens ao SPI conheceram dois homens que prometeram fazer a demarcação do território Pataxó. Uma semana depois da chegada das lideranças a aldeia, chegaram dois homens um dizia ser tenente, o outro engenheiro. Reuniram a comunidade falaram que fariam a demarcação, precisaria da ajuda dos homens e perguntou onde ficava o comércio mais próximo, a comunidade respondeu que ficava em Corumbau. Então os dois homens afirmaram que começariam os trabalhos pelo Corumbau e precisaria da ajuda do comerciante. No dia seguinte quando aproximaram do comercio do Teodomiro, os dois homens armados amarraram o comerciante e obrigaram os Pataxó a levarem tudo que tinha na venda para a aldeia inclusive o comerciante que foi solto por um jovem no caminho. A mercadoria foi colocada na igreja, mas a comunidade a rejeitou, pois já haviam percebidos que aqueles homens eram bandidos, era tarde demais.
"Na madrugada do terceiro dia chegaram os policiais da cidade de Porto Seguro atirando contra as casas. Logo depois ouviram tiros do outro lado, era a polícia de Prado que chegava atrasada, pelo outro lado, já atirando contra a polícia de Porto Seguro, pensando tratar-se dos índios, achando que eles estavam bem armados. Enquanto trocavam tiros entre si, alguns índios começaram a fugir, se embrenhando nas matas. Quando eles se deram conta que não eram os índios que atiravam, se juntaram, entraram na aldeia, incendiando as casas, prendendo e espancando os índios que iam encontrando, queimando suas roças e passaram a perseguir os índios que haviam fugido. Essa perseguição só acabou semanas depois que os dois ladrões foram mortos".
Professore Pataxó do extremo Sul da Bahia, 2007.
Os parentes que foram presos, só foram soltos quando veio uma ordem de Salvador para soltá-los, pois os policiais já haviam matado os dois culpados. Depois desse episódio a comunidade se dispersou, muitos foram obrigados a começar a vida trabalhando em fazendas da região e a aldeia ficou deserta.
Depois de alguns anos muitas famílias voltaram para seu território, mas foram novamente obrigados a saírem de suas terras pela implantação do Parque Nacional de Monte Pascoal, em 1961. A aldeia ficou novamente deserta.
Os Pataxó ficaram espalhados por diversas cidades da região e em outros estados como Espírito Santo e Minas Gerais. Aos poucos as famílias foram retornando novamente a aldeia, como não podiam fazer roças viviam da coleta de mangaba, coquinho, caju, da pesca e do mangue. Mais uma vez as lideranças resolveram pedir ajudar ao SPI, que demarcou na época uma pequena área com apenas quinhentos metros de terra que dava para a agricultura.
Em 1967 foi criada a FUNAI, que juntamente com o governo da Bahia teve uma tentativa de deslocar os Pataxó para uma outra área do outro lado do rio Caraíva, mas os Pataxó resistiram e não saíram.
Depois de muita luta em 1984 os Pataxó conseguiram a demarcação de 8.627 hectares de terras, homologada em 1996 pelo decreto nº 1.396. Em 1999, o Monte Pascoal foi reconquistado.
Devido às inúmeras dispersões e a volta de muitos dos parentes dispersos, outras aldeias foram formadas no entorno do Monte Pascoal, totalizando hoje dezoito aldeias, fora as famílias que vivem isoladas.
Essas inúmeras dispersões resultaram em casamentos de Pataxó com outras pessoas negras e brancas, na formação de diversas aldeias com modos de vidas diferentes. Hoje a maioria das comunidades Pataxó vive à base da agricultura e da venda do artesanato.
Arissana Pataxó